14 de nov. de 2011

Por que escondes a mão?























Foto da Família real em 1888 – detalhe para a mão direita de Dom Pedro II.

Na primeira fase no curso de História na Universidade Federal de Santa Catarina temos na grade curricular a disciplina de História da Arte. A partir dessa disciplina (e indiretamente a partir das outras também), muitas questões começaram a surgir - principalmente aquelas ligadas ao mundo artístico, neste caso: os pintores, as técnicas, as obras de arte, seu contexto, etc. Deste então agucei meu interesse por obras de arte em geral. Lembro que no final de uma dessas aulas fui em direção ao professor responsável pela disciplina e perguntei cheio de angústias sobre algo que me acompanha a tempos, um detalhe que poderia passar desapercebido como tantos outros em retratos de diversas épocas (uma perna cruzada, uma pose qualquer). Mas esse não era o caso do meu enfoque ao "mistério" da mão escondida, presente em diversos quadros. Sua aparição repetida vezes me causa espanto até o presente momento. Acontece que a resposta, de uma forma muito sincera vinda do professor, serviu apenas para aumentar as minhas angústias: "bom, desculpa, mas eu não sei o seu significado".

Napoleon in his study de Jacques-Louis David (1812)

Isso fez com que eu seguisse acompanhando e buscando imagens que trazem seus personagens com a dita mão (geralmente a direita) escondida em seus casacos. Quadros famosos com personagens célebres, principalmente aqueles que são resultado de uma construção muito bem elaborada, ligados a questão do estado nacional, líderes políticos e/ou homens públicos que eram tidos como referência intelectual, moral ou ética ou com outras características que lhe permitia, no momento, estar em posição de “destaque”.
Mistério pode ser um péssimo substantivo para abordar aqui essa temática. Afinal, carrega consigo um ranço sistemático que se acumula por anos no mundo científico. Mas na falta de uma palavra melhor, seguimos com esta definição mesmo, que está ligado justamente ao suspense e ao que não se conhece as causas.



Amadeus Mozart, de Pietro Antonio Lorenzoni (1763).
Não são raras as pinturas que trazem seus personagens com a mão escondida. São sujeitos como: Amadeus Mozart, Napoleão Bonaparte, Karl Marx, Abraham Lincoln, Joseph Stalin, George Washington, Marquês de Lafayette, Salomon Rothschild, Simon Bolivar, entre outros. Essa posição/gesto suscita com certeza algumas questões para um observador atento.
Em uma pesquisa rápida na internet, encontrei alguns textos sobre o assunto, (poucos e geralmente em inglês), e que geralmente fazem ligação do assunto com teorias da conspiração de uma forma muito exagerada. Estes (sites) entendem que o mundo é governado por uma "mão invisível" e que de fato, os personagens são chaves que estiveram em posições de destaque nos governos mundo a fora e em contextos políticos importantes e que este sinal seria um gesto sutil de identificação.
De fato alguns desses personagens foram ligados a sociedades secretas, principalmente a maçonaria, por exemplo: Mozart, Lincoln, Washington, Benjamin Franklin - o que de algum modo já nos permite refletir a ligação entre a simbologia presente em alguns destes quadros com estas ordens secretas, de fato. No caso das pinturas é interessante notar também a importância em se questionar para além da obra. Qual seria a opção do pintor em representar o gesto? Quais seriam afinal seus objetivos em representar esse sinal nas suas obras? As obras foram feitas com os personagens ainda em vida? Foram encomendadas por quem? Penso que são questões básicas que podem nos auxiliar entender um pouco mais sobre esse detalhe e os seus contextos.


José da Silva Lisboa, o visconde de Cairú, junto a José Bonifácio. Óleo de R. Nunes, da Câmara de Vereadores de Salvador - Bahia.


Conversando com algumas pessoas a respeito disso, acabei encontrando algumas soluções engraçadas para a situação: "os pintores podiam ter dificuldade em pintar as mãos", "a mão podia ser feia", "queriam imitar Napoleão". Mas para além das especulações achei interessante buscar, portanto, algumas respostas, inclusive, pesquisando em manuais que estão disponíveis na internet, se de algum modo, esse gesto está incluso nos sinais maçônicos ou em outras seitas, se os pintores aparecem entre as listas dos maçons famosos, e aí por diante.



E eis então, para a minha surpresa, que sim, existem simbologias semelhantes. A posição está representada em livros maçônicos de maneira bem ilustrativa, também em quadros que tratam, por exemplo, do momento da iniciação de um novo membro na ordem ou da passagem do grau de companheiro para mestre. Além disso, há também parábolas que remetem à reconstrução do templo de Salomão e ao estabelecimento do império judeu onde o gesto da mão direita sobre o seio está ligado a seguinte expressão “o que somos, o que fazemos”, (Êxodo 4:6) expressão que faz parte do ritual maçônico de Duncan, na fig.34 do manual para a passagem do mestre de segundo véu e que identifica os homens que adoram o Deus Jahbulon.

As representações simbólicas tem um valor destacado para diversos grupos sociais em diferentes contextos, principalmente nas questões que envolvem religião, o místico, o espiritual. Não são raros os símbolos ligados as práticas religiosas retratados pelos pintores: sobre as mesas estão compassos e esquadros, crucifixos, representações diversas sobre a morte, a vida e tatnos outros que fazem parte do rol de signos que carregam em si valores, como é o caso para a maçonaria da pirâmide, do esquadro, dos três pontos, etc.

Para além da curiosidade e especulação, é interessante realizar um esforço para não generalizar o ato da mão dentro do casaco. Não seria possível, por exemplo, imaginar uma pessoa comum na mesma pose para a composição de uma pintura ou uma fotografia? Inclusive, não se pode excluir neste caso a questão dos hábitos. Afinal, a conduta em determinados espaços, em lugares sociais de classe x ou y, carregava consigo diversos valores, entre eles, valores que influenciavam diretamente na postura que se traduz em honradez, civilidade, hombridade, entre outros.

Outro aspecto que pode ser analisado em relação ao tema é a ligação do sujeito (pintor ou pessoas representadas nos quadros, ou fotografadas) com o cristianismo. Vale destacar que a mão direita possui um significado bastante rico nas passagens bíblicas. Encontra-se em diversas passagens, citações em que ela possui significados tanto ligados a questão da fraternidade quanto ao divino. Só a título de exemplo: Deus age através da mão direita. Seus contatos com os arcanjos são realizados através da mão direita. Êxodos (15:6), Salmos (18:35), Salmos (48:10) e ai por diante.


É compreensível que essas coincidências (ou não) gerem versões polêmicas sobre o assunto. Afinal, são pessoas que tiveram certo prestígio na sociedade, em diferentes momentos e que dentro de suas particularidades, possuem também algumas singularidades, sendo que uma delas é justamente, a postura para uma pintura ou uma fotografia. É um pouco difícil fugir do debate sobre as discussões que envolvem o mistério, sem cair nas explicações que tratam do vínculo dos sinais, sejam eles quais forem, com a conspiração, com o poder, com o segredo.

Um ponto que me parece interessante aos historiadores é a permissividade que este tipo de assunto e debate possui para que possamos trabalhar aspectos importantes na construção das narrativas, dos enredos, dos discursos históricos. Um exemplo como o citado acima pode trabalhar a importância da comunicação gestual nas fotografias ou quadros, da história dos costumes, das diversas formas de comunicações na sociedade, entre tantas outras.

Por fim, é necessário termos sensibilidade o suficiente para não tornar o nosso foco demasiado rígido e por conseqüência restrito. Pois assim podemos não perceber que na verdade o importante não está em compreender o que significa a mão direita ou esquerda dentro do casaco, mas perdemos a chance de interpretar qual o sentido da mão que está livre e solta no mesmo quadro ou fotografia. Existem, portanto, algumas formas de interpretar esse sinal, alguns associados a ordens secretas como a maçonaria, outras com o judaísmo ou o cristianismo, há também a possibilidade de interpretar através dos costumes e dos hábitos, enfim, existe uma gama enorme de possibilidades para tratar de um tema controverso como este.

1 de jun. de 2011

Domingo de ações engraçadas.

Reis obesos, risonhos com adulo do desespero preparavam o último jantar enquanto se despediam do último caviar ao som da valsa da banda que já estava demitida e iria procurar emprego em outro lugar. Era o fim da monarquia.

Cachorros se despediam das pulgas, os carros gastavam seus pneus nas avenidas da cidade e a borracha dizia adeus às últimas árvores que restaram no local, onde agora está o estacionamento central. Era o fim da calmaria.

As pessoas com capacetes olhavam para as pessoas sem capacetes e se deliciavam ouvindo jazz, e julgavam quem não podia apreciar os bordéis mais caros da cidade, nem as tetas caídas das meretrizes que até o prefeito, de capacete, já havia se deliciado.

Velhos, desrespeitados se reuniam na praça para discutir a última jogada do xadrez, que um tal José, havia lhes ensinado. Lembravam saudosos do Direito, aquele jovem imbecil de dois séculos, que no último instante , saia à francesa.

O Estado, abandonava o monopólio da violência, distribuía exemplares do Capital e descartava a chance de vencer. A burocracia, robusta e de calças apertadas, saia pé por pé da sua sala escura, mas não antes de retirar o pó da escrivaninha onde sentava antes a velha secretária.

Os pais carecas, as mães caridosas, os padres e os senhores de casacos pesados e úmidos, escoravam sua mão esquerda na cabeça para pensar numa saída, não havia jeito, a cidade estava tomada pelo desânimo que como um coelho, veloz e peludo, roubava o peso de suas consciências e tudo parecia leve.

Sem monarquia, sem calmaria, só restou alguns jovens com bonés vermelhos e sapatos desamarrados, afinando o último piano alemão da cidade, que havia chegado de um porto qualquer do atlântico. A secretária, os cachorros, os senhores de casacos pesados e úmidos resolveram apertar as mãos e compor um hino que seria homenagem à despedida das pulgas, da Monarquia, do Estado, da consciência pesada.O mundo, enfim, estava livre.

Vulvas culpadas e estranhos nas calçadas

Culpadas as vulvas não salientavam mais nenhum aspecto daquela geração,
Mórbidos e cansados, os pés direitos cansaram de pisar primeiro.
O segundo andar dos prédios olhava para os andares desencorajados das pessoas
Nas ruas e parados nas esquinas o papel no chão não era de nenhum ator.

Velhos sensatos caminhavam sem pressa olhando para os cabos da telefonia,
Que ouviam as vozes dos cabos do quartel reclamando pras suas namoradas
Que o general não passava de um ser arrogante e que esquecia que ali
Morava a disciplina que outrora se inventara.

Imitação da vida, as abelhas não estavam nem aí para os problemas das pessoas
de olhares cansados, sonolentas e aviltadas.
Não tocava música nenhuma, nem as folhas das árvores caiam no chão
Sequer os carros buzinavam um Mi maior, quem dera a poluição fosse só sonora,
ali estava programado o caos, com script e diretor:
Enquanto pássaros decidiam em assembléia a próxima sacada,
o fotógrafo perdia o foco, dando zoom onde ninguém olhava.